domingo, 22 de março de 2009

Epílogo I

Chamo-lhe Epílogo I. Outros certamente se seguirão. Este é meramente a minha visão da nossa missão, precisamente no dia em que termina a campanha WR140.



Pelo que fomos informados pelo Thomas Eversberg, o nosso P.I. a campanha foi um sucesso, tendo-se conseguido mais de 40 espectros da Wolf-Rayet 140 nos quatro meses do seguimento do periastro.
Foi há mais de um ano que aderimos à campanha. Fiz o primeiro espectro do sistema em Outubro de 2007. Daí para cá, uma miríade de mensagens correu o ciberespaço. Muito teve que ser ajustado, desde a escolha do equipamento até aos procedimentos.
Mesmo com toda esta antecedência na preparação da campanha, muita coisa correu mal. É o Murphy no seu melhor! A primeira equipa deparou-se logo com o facto de a câmara de ciência ter chegado avariada, pelo que só aí se perdeu uma preciosa semana de observação. O sistema de apontamento do telescópio também teve de ser melhorado. Infelizmente o IAC não permitia a inclusão de qualquer dispositivo no telescópio, pelo que não pudemos adaptar um buscador com câmara, que muito facilitaria a tarefa de apontar aos alvos.


Quando chegou a nossa vez, deparámo-nos com uma série de problemas técnicos, que afinal resolvemos com alguma facilidade. Reparámos o Néon, resolvemos definitivamente o mau contacto do transformador do Néon, com recurso a uma rolha de um excelente vinho do Porto, e resolvemos o problema da descarga dos CCDs, limpando os contactos das extensões USB.


Resolvemos também o problema das comunicações com os FTPs de Liège e de Montreal. Infelizmente, isto só veio beneficiar as 2 últimas equipas.
Sempre esperei que as condições meteorológicas fossem melhores em Izaña. Se a meteorologia tivesse ajudado, o trabalho teria sido mais produtivo.


A nossa equipa funcionou como uma verdadeira equipa, em que quatro pessoas eram uma só. Para mim foi uma experiência única, havia sempre um que espontaneamente fazia o que havia para fazer quer no trabalho, quer no lazer! Em consequência, passámos bons momentos juntos, que certamente recordaremos por muitos e bons anos.


JR

quinta-feira, 12 de março de 2009

Dia 13 - 07 de Março

Hoje chegaram os nossos substitutos na missão.
São eles Thomas Eversberg e Norbert Reinecke.
Marcámos jantar para todos na Residência, a fim de termos a oportunidade de conviver um pouco e de nos conhecermos melhor.
Após o jantar fomos passar o testemunho, instruindo-os nos procedimentos, no uso dos círculos graduados manuais, no manuseamento da cúpula, nos cuidados a ter com o escadote, de forma a salvaguardar o equipamento, no uso dos programas utilizados na captura de espectros, “neons”, “flats”, “darks” e o seu envio para Liège e Montreal.
São uma excelente equipa e estamos certos de que conseguirão cumprir a sua parte da missão.



Depois foi o merecido regresso a casa, numa longa viagem, via Madrid.
Em jeito de balanço, podemos dizer que tivemos algum azar com o tempo. Mas, como grupo, soubemos tirar proveito da situação. Viajámos pela ilha, explorámos os recantos menos turísticos, saboreámos a boa cozinha regional, conhecemos gente.
Tivemos o privilégio de morar num observatório, de partilhar o tipo de vida e o dia-a-dia dos profissionais.
Viemos mais ricos. Mais ricos de conhecimentos e, sobretudo, de amizade.
Os dados recolhidos ao longo de 4 meses vão agora ser trabalhados e darão origem a 3 trabalhos científicos. Teremos para sempre o prazer íntimo de ter sido parte de um projecto raro de cooperação internacional entre amadores e profissionais.
E, para terminar, um belo pôr-de-sol, com a sombra do Teide projectada no céu e um pilar solar.

terça-feira, 10 de março de 2009

Dia 12 – 06 de Março

Esta tarde fomos tentar a subida ao Teide, pelo teleférico. Quando chegámos, tinha partido o último do dia. Resolvemos ir passear a pé pelas “Cañadas del Teide”.

Há muitos caminhos para passeios a pé, mas não nos limitámos a seguir os caminhos. Subimos e descemos penedos e ravinas, empoleirámo-nos nos pontos mais altos para fruir das vistas magníficas, e descemos aos pontos mais baixos para ter a perspectiva dos cumes e dos campos de lavas, vistos de baixo.


Terminámos o passeio para chegar cedo ao observatório, mas não tivemos sorte com o tempo. Mais uma vez, o céu esteve nublado toda a noite.

Por isso, resolvemos ir apanhar o teleférico, logo de manhã. Assim fizemos. Quando chegámos ainda não tinha começado a chegar a vaga de turistas e conseguimos subir rapidamente.

É magnífico ver a paisagem alargar-se à medida que se vai subindo.

O teleférico não chega ao topo, parando cerca de 150 metros abaixo. Gostaríamos de ter subido a pé até ao topo, mas o caminho estava vedado devido a gelo e neve.

Também o vento estava forte e o ar, por efeito do vento, estava gélido.

Após espiolharmos todos os pontos de visão possíveis e após as fotografias da praxe, depois de o José Ribeiro e o Luís Carreira terem gelado a fumar um charuto, descemos e fomos almoçar a Vilaflor, regressando para irmos receber os nossos substitutos, Thomas Eversberg e Norbert Reinecke.



A passagem de testemunho será o tema da próxima reportagem.

sábado, 7 de março de 2009

Dia 11 – 05 de Março

Hoje fomos visitar a sede do Instituto de Astrofísica das Canárias e comprar camisolas e camisetas com o emblema do IAC.
Fomos recebidos por Johan Knapen. Fez-nos uma visita guiada e ficámos a conhecer aspectos que não imaginávamos. Por exemplo, trabalham naquele instituto mais de 400 pessoas. Ali se desenvolvem projectos e se concebem e constroem equipamentos de vanguarda. Concebem-se e constroem-se praticamente todos os equipamentos do Gran Tecan.
Ficámos a saber que estavam a ser construídos dois telescópios, e vimos um exemplar pronto a ser transportado, a serem instalados no observatório de Teide, o CMB – Cosmic Microwave Background.
Tínhamos visto e ficado um tanto intrigados, duas antenas parabólicas a apontar para duas placas metálicas. Pois bem, trata-se de um equipamento experimental para estudar a radiação cósmica de fundo – o mesmo objectivo do CMB.




O telescópio Mons que estamos a utilizar nesta missão é propriedade do IAC. A missão foi aprovada porque continha uma importante componente científica. Foi-nos explicado que uma missão com a duração de 4 meses só pode ser aprovada se tiver uma perspectiva de trazer algo de novo e importante, como se espera que sejam os resultados desta missão.
Os custos da utilização do telescópio e todo o apoio operacional são suportados pelo IAC.
Qualquer telescópio instalado no perímetro do observatório terá, obrigatoriamente 20% do tempo reservado para cientistas espanhóis, política que fez com que Espanha tenha hoje uma posição de liderança no domínio da astrofísica. Fica ainda 5% do tempo reservado a programas internacionais.
Depois fomos almoçar a uma tasca que encontrámos no fim de uma estrada sem saída, mesmo à beira mar, tasca com características hoje impossíveis de encontrar em Portugal. É um património que, por interesses ou políticas duvidosas, foi lamentavelmente destruído. Soube bem comer um peixe acabado de pescar à nossa frente, que não conheceu nem veterinário nem frigorífico, ouvir um fado só porque éramos portugueses, ou uma morna cabo-verdiana porque o proprietário lá tinha trabalhado. A tasca chamava-se Café Criolu.


Depois foi a noite de astronomia. Conseguimos capturar os espectros das estrelas HD 14134, HD42087 e HD60848. Fizemos “flats”, como preparação para a WR 140, e ainda iniciámos a captura de espectros. Mas o tempo não colaborou. Uma longa faixa de nuvens altas que se estendia desde Cabo Verde até às Canárias cobriu o céu e não foi possível completar o objectivo da noite.
Tem sido um tanto frustrante o número de noites impróprias para a astronomia. Os relatos diários que temos feito são reflexo da situação meteorológica que temos tido. Esperemos que a próxima noite nos permita, pelo menos, fazer os espectros da WR140

quinta-feira, 5 de março de 2009

Dia 10 – 04 de Março

A tempestade passou e, hoje de manhã, deparámo-nos com vistas de rara beleza, com toda a paisagem coberta de neve iluminada pelo sol, num céu sem nuvens.


Todas as plantas estavam cobertas por espessas camadas de neve gelada, os telescópios estavam cobertos de estalactites de gelo, o anemómetro da estação meteorológica estava bloqueado com gelo e todo o solo estava coberto por uma neve seca e macia.



O Teide e as paisagens circundantes brilhavam de branco intenso. Não havia vento, a temperatura era amena e a neve começava rapidamente a fundir-se.
Do alto dos telescópios desprendiam-se grandes blocos de gelo que se desfaziam no chão com estrondo.
As estradas estavam já abertas para o lado do Teide e de La Orotava, mas ainda estavam bloqueadas para La Esperanza.
Almoçámos na Residência e fomos até ao teleférico do Teide, na esperança de subir ao topo. Estava encerrado e, por isso decidimos ir subindo a pé. O caminho é bastante fácil até à altitude que atingimos – 2800 metros. Como só fomos depois de almoço não havia tempo para mais, mas a parte mais difícil ainda estaria para vir. Concluímos que uma subida até ao topo nos levaria, pelo menos, 5 horas. Se tivermos tempo e o teleférico estiver a funcionar, pensamos subir no teleférico e descer a pé.


As vistas, ao passo que se vai subindo, são magníficas. Aos 2800 metros tem-se uma visão fantástica em todas as direcções, com o observatório lá ao longe e abaixo e com o Teide, imponente, do lado oposto, e 900 metros acima.
De regresso ao observatório, encontrámos céu limpo, mas com tudo cheio de gelo.


Foi interdita a abertura das cúpulas devido ao gelo. Luis Carreira e José Ribeiro fizeram exposições longas para captar as ilhas de Gran Canária e de La Palma, sendo notória a diferença de poluição luminosa entre as duas ilhas, porqua na segunda vigora a Lei de Protecção do Céu.



A entrada da Casa Solar, bem como toda a área de estacionamento frente ao Mons, e estrada de acesso, estavam cobertas de uma camada de neve gelada e escorregadia. O Filipe ainda se estatelou no gelo, em frente ao Mons, enquanto lidava com o equipamento montado no exterior.
Como não havia autorização para usar o Mons, o Filipe e o Luís Carreira montaram o Taka 90, com a SBIG e fizeram belas imagens de Eta Carinae e de Centaurus A.



Agora esperamos que, na próxima noite, o céu esteja aberto e que as condições meteo permitam a abertura das cúpulas.

Dia 9 – 03 de Março


A queda de neve transformou-se em tempestade, acompanhada de vento forte. O observatório foi declarado em estado de emergência e interditas todas as saídas e entradas de viaturas. Jantámos na Casa Solar e só fizemos curtas deslocações a pé, até ao Mons.


Vimos um filme, deitámo-nos relativamente cedo e, a meio da manhã, fomos transferidos da Casa Solar para a residência. A Casa Solar está equipada com painéis solares para aquecimento de água que, por sua vez, é usada para aquecimento, banhos e cozinha. Sem Sol e com neve a cobrir totalmente os painéis, fica privada de água quente, tornando-se desconfortável.
Na residência havia pouca gente. Além de nós quatro, só dois astrónomos, um operador, um segurança e dois elementos da cantina.
Um dos astrónomos era o Sergei, ucraniano com residência nos EUA. Estava a preparar um pequeno telescópio para um projecto de medição do luar da Terra (earthshine), cujo objectivo é determinar a variação do albedo terrestre e estabelecer relações com as variações climáticas.


Visitámos o telescópio que é totalmente robotizado. A visita foi feita durante a tarde, sob forte ventania, acompanhada de queda de neve. Subimos ainda até ao Mons pelos caminhos demarcados no meio do mato. Havia muita neve, mas era seca e não aderia às botas nem às roupas. Era impossível fazer uma bola de neve. Ao atirá-la desfazia-se pura e simplesmente.


Agora resta-nos ficar na residência – a propósito, não subscrevemos os comentários feitos sobre o pessoal da cantina, o qual, após uns primeiros contactos algo frios, se mostrou conversador e perfeitamente disponível – e esperar que o tempo melhore.
De momento a situação tende a agravar-se, com fortíssimas ventanias e intensa queda de neve.
Estamos também com curiosidade em ver a paisagem quando o céu finalmente descobrir.

terça-feira, 3 de março de 2009

Dia 8 - 02 de Março

Hoje fomos a La Laguna para tentar comprar alguns artigos alusivos ao IAC. Almoçámos no caminho, em La Esperanza.
Não conseguimos comprar os artigos pretendidos. Para isso teremos de ir antes das 15:00 horas.
O carro andava a fazer um ruído estranho quando se travava e, por isso, fomos ao aeroporto Los Rodeos – Tenerife Norte – trocar de viatura.
Quando descemos havia o já tradicional nevoeiro e chuva miúda, acompanhada de alguns flocos de neve.
Quando regressámos, pelas 18:00 horas, e iniciámos a subida, deparámo-nos, de repente, com a estrada completamente coberta de neve. No início da subida, a neve, misturada com água, tornava o piso escorregadio. Gradualmente, deu lugar a neve seca e conseguimos subir apesar de o carro não estar equipado com correntes.
Foi uma verdadeira aventura. Havia pedras caídas das arribas em vários pontos da estrada.


Subimos, sem nunca parar, e conseguimos chegar ao observatório e à Casa Solar.
Depois veio uma verdadeira tempestade de neve que, durante a noite, pintou de branco profundo toda a paisagem visível. O vídeo gravado com um telemóvel durante a subida dá uma ideia do estado da estrada e do tempo.




Não havendo condições para abrir a cúpula, pusemos remotamente o telescópio a fazer “bias” e “darks” e ficámo-nos pela casa solar.



À noite fomos informados que o observatório tinha entrado em situação de emergência, devido ao forte nevão e, de manhã, fomos transferidos para a Residência principal, porquanto a Casa Solar, com este tempo, deixaria de ter água quente e o aquecimento por água, embora também tenha algum aquecimento eléctrico.
O carro ficou lá, à porta, com uma forte camada de neve em cima.

Agora aguardamos a evolução do estado do tempo.
A astronomia parece estar comprometida, muito provavelmente para o resto da estadia, mas queremos, pelo menos, ir a La Laguna visitar o IAC e, num outro dia, à parte da ilha, a norte de Santa Cruz.
Entretanto, lá fora, está situação de temporal, com forte ventania e não sabemos quando irá terminar.

Dia 7 - 01 de Março

Porque a noite anterior terminou às 7 horas da manhã, dormimos até tarde e fomos almoçar a La Esperanza, por volta das 15:00.
Mais uma vez toda a viagem foi feita sob nevoeiro e céu nublado. Regressámos ao observatório na esperança de uma boa sessão de observação e escolhemos os alvos para a noite.
Mais uma vez observámos o pôr do Sol e a projecção da sombra do pico do vulcão Teide sobre o mar de nuvens que rodeava a ilha.


Mas o tempo não colaborou e acabámos por ficar na Casa Solar a aguardar uma eventual melhoria, o que veio a acontecer pelas 03:30. O céu limpou, apesar de haver algumas nuvens altas dispersas, e atacámos a WR 140, o objectivo principal da missão e que só é visível após essa hora.
Conseguimos registar 5 capturas de 20 minutos, com os respectivos “neons”.
É fascinante a utilização dos círculos graduados manuais. Habituados como estamos aos equipamentos automatizados, achamos um pouco primitivo que um telescópio, num observatório profissional, tenha que ser apontado manualmente.
Porém, achámos esta técnica muito didáctica e com resultados muito precisos.
Concretamente é necessário determinar a declinação do objecto a encontrar, valor que é constante.


Em contrapartida, o ângulo horário varia continuamente em função da hora local, e é necessário calculá-la para uma hora exacta.
Uma vez determinados esses valores, são usadas as escalas graduadas de ângulo horário e de declinação, introduzindo os valores precisos, de forma a engrenar o seguimento da montagem à hora exacta para a qual os valores foram calculados.
Devido ao tamanho do telescópio, é obrigatório usar um escadote e, em certas situações, como para a WR 140, são necessários alguns exercícios acrobáticos, porque o buscador visual e o buscador do espectroscópio ficam em posições quase inacessíveis.

O cronista desta expedição, Alberto Fernando, capturado a escrever no blogue 1 hora antes de fazer a barba de uma semana pela calada da noite...


A noite terminou com tempo pouco prometedor para a noite seguinte.
Mas isso será objecto da próxima reportagem.

domingo, 1 de março de 2009

Dia 6 - 28 de Fevereiro

Porque a noite anterior só acabou ao nascer do sol, dormimos até tarde e fomos almoçar a La Esperanza, pelas 14:30.
Apanhámos nevoeiro em parte do caminho, mas, quando o nevoeiro terminou, fizemos paragens em vários miradouros. Queríamos ver a ilha de La Palma, o que não foi possível devido às nuvens existentes sobre o mar.
Regressámos ao observatório com tempo nublado e com o nevoeiro a persistir. No entanto, ao fim do dia, o céu limpou completamente, a humidade baixou para menos de 20%, a temperatura ficou amena, o vento continuou calmo, mantendo-se as condições durante toda a noite.
Aproveitámos para assistir a um belo pôr do sol sobre o Teide.




Planeámos 4 estrelas para esta noite: HD45314, HD 50896, HD 52382 e a WR 140, além dos respectivos “neons” e “flats” (25x160 seg.).
Para a WR 140 fizemos 6 séries de 1200 segundos.
A noite correu muito bem e cumprimos todos os objectivos.



Paralelamente, no exterior do observatório o Luís Carreira e o Filipe montaram a TAKA P2Z com a SBIG ST10 e a objectiva 50mm. Com este equipamento fizeram belas imagens de Eta Carinae, do Cruzeiro do Sul e de uma nebulosa em Ofiúco.



O José Ribeiro montou um equipamento para a captura de meteoros, constando de uma objectiva Zenith Star 16mm a f2.4, um espectroscópio de transmissão (Star Analyser) e uma câmara Atik 2HS. Não produziu resultados, mas as experiências vão continuar.
Visualmente, com o binóculo Fujinon 16x70, observámos também Eta Carinae, o enxame aberto NGC3532, também em Carina e vários outros objectos daquela área do céu.
Visualmente, Eta Carinae ficava no limite da detecção visual. Mas observámos o Cruzeiro do Sul, não conseguindo a estrela mais baixa no horizonte (alpha crucis). Mais tarde, também observámos alpha e beta Centauri.
Alpha Centauri é uma estrela tripla, sendo uma das parceiras (Proxima Centauri), não visível a olho nu, a estrela mais próxima de nós.
Foi mais uma noite em cheio.
Oxalá o tempo continue de feição

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Dia 5 - 27 de Fevereiro

Finalmente tivemos uma noite de céu limpo.
E o dia nem começou muito prometedor. Amanheceu nublado, com neve nos telhados de algumas construções e, no caminho para Esperanza, onde fomos almoçar, apanhámos nevoeiro e chuva miúda.
Regressámos relativamente cedo e fizemos a foto da praxe, com a bandeira portuguesa, à entrada do observatório.



Por essa hora, ainda o céu estava com nuvens altas e humidade elevada. Mas, pouco depois, começou a limpar e assim se manteve durante toda a noite.
Como já tínhamos feito flats no dia anterior, começámos logo pelas estrelas seleccionadas. Escolhemos a HD 14134, a HD 42087, a HD 43384 e a WR 140.
Por procedimento, é necessário fazer “neons” de 1 segundo e de 10 segundos, antes de fazer os espectros e, igualmente, após as capturas.
Com o tempo gasto no alinhamento com os círculos digitais manuais, os “neons” e 3 séries de 1200 segundos de capturas de espectros, atribuímos 2 horas a cada estrela.
A WR 140 só está ao nosso alcance, em posição adequada, pelas 04:00. Assim, mais ou menos entre as 3 e as 4 da manhã, aproveitamos para fazer “flats”, porquanto o tempo não é suficiente para mais uma estrela.
Encerrámos a cúpula pelas 06:20, com a humidade a atingir os 80%, limite operacional estabelecido para todo o observatório.


Durante a noite fomos preenchendo o registo de dados de temperatura, humidade, vento e hora a que cada “néon”, espectro ou flat foram capturados.
No final procedemos ao envio para Liège e Montreal.
Foi uma noite de pleno sucesso.
Estamos um tanto desagradados com alguns equipamentos, mas sobretudo com o computador disponibilizado para a campanha, que tem tudo em alemão, pelo que algumas acções são do tipo “Braille”. Também alguns procedimentos nos parecem um pouco excessivos, mas cumprimo-los porque não faz sentido mudá-los unilateralmente.
Entretanto o Luís Carreira e o Filipe montaram a TAKA P2Z, com uma SBIG ST10 e uma objectiva de 50mm, a f2.8, desdobrando-se no interior e no exterior.
Registaram um campo de nebulosas em VELA, a nebulosa Roseta e a região de Antares/Rho Ophiuchi.

A noite começou com um belíssimo par Lua e Vénus e terminou ao nascer do sol, com Júpiter, Mercúrio e Marte no horizonte leste.
Assim, sim. Esperamos ter mais noites como esta, todos os dias, até ao fim da missão.

Dia 4 - 26 de Fevereiro

O tempo tem sido uma frustração. Nas duas últimas noites a humidade foi de 100%, com céu totalmente encoberto e bastante frio.
Na manhã de 27 apercebemo-nos que tinha nevado. Embora, na área do observatório só houvesse vestígios de neve em alguns telhados, na estrada para Esperanza, a neve tinha-se acumulado nas encostas viradas a norte e acima dos 2000 metros.
Já que o tempo não tem colaborado, continuámos a nossa exploração da ilha. Desta vez resolvemos ir até à Punta de Tena. Para isso tomámos a estrada através das “Canadas del Teide”, depois a direcção de Santiago de Teide e, a partir daí, a estrada para a Punta de Teno.
Parámos nos campos de lavas, na base do Teide, campos de uma rudeza impressionante, para depois atravessarmos a denominada “Corona Forestal”.

Esta floresta cobre quase toda a parte central da ilha, em altitudes que vão dos 1000 até aos 2000 metros, consoante a exposição das encostas.
Após Santiago de Teide, a estrada é típica de montanha, muito estreita, com curvas apertadas, desdobrando-se à borda de precipícios com vistas vertiginosas.
Parámos para um café numa esplanada de vistas esplendorosas sobre Masca, após o que fizemos o resto da travessia das montanhas até Punta Preta, no fim de uma estrada sem saída, onde almoçámos numa esplanada mesmo à beira-mar.

Depois fomos até à Punta de Teno através de uma estrada cortada na falésia. Dessa ponta, junto ao farol de Teno, avistava-se a ilha de Gomera.
Espantaram-nos a grandiosidade das ravinas, os promontórios rochosos, o corte das estradas que, em muitos troços, oferecem um elevado perigo de derrocadas e de queda de pedras e as vistas de cortar a respiração.


Regressámos na esperança de uma noite de observação, mas não tivemos sorte, pois, como já referi, a humidade manteve-se nos 100% durante toda a noite.
Parece-nos que a situação meteorológica está a evoluir favoravelmente e que iremos ter céu limpo na noite de 6ª feira.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Dia 3 - 25 de Fevereiro

Dormimos até tarde.
Pelas 13 horas caía granizo e neve, e a paisagem ficou branca. O carro tinha uma camada de neve seca.



Resolvemos ir almoçar a Esperanza; fizemos todo o caminho com chuva e neve e acabamos por saborear óptima comida canária.


Depois fomos até a uma grande área comercial, próximo de La Laguna, para fazer abastecimentos e comprar um cabo de rede.
No regresso tomámos a estrada via La Orotava que atravessa a denominada “Corona Forestal”, área muito bela, cheia de árvores de grande porte, sobretudo altos pinheiros bravos.
Na viagem de regresso tivemos sempre tempo nublado, com tendência para nevoeiro, como a imagem abaixo mostra, com o Sol a pôr-se no pico do Teide.


Pelas 19 horas, com a humidade a 100% e o céu coberto de nuvens, pusemos o equipamento a capturar flats, uma série de 25x160s.
Ao mesmo tempo procedemos ao envio dos registos do dia anterior para Liège e Montreal. Ao contrário do que nos fora transmitido, com uma aplicação de FTP introduzida por Luís Carreira (FileZilla), a transmissão correu sem qualquer problema ou incompatibilidade com as restantes aplicações, nomeadamente a de aquisição de imagens (SigmaPRO), que durante a transmissão se encontrava a capturar uma série de flats, nos quais verificámos a existência de alguma anomalia. Correu perfeitamente, e com velocidade de transmissão na ordem dos 3 Mb/s!!!

Depois jantámos na Casa Solar, saboreando alguns dos petiscos que tínhamos comprado à tarde.
O tempo continuou húmido e o céu encoberto, pelo que pusemos o equipamento a capturar darks, uma série de 20x1200s, e bias.

Fizemos a reportagem para o blogue, procedemos ao tratamento de alguma imagens tiradas durante o dia e a noite anteriores e, pelas 03:00, rendidos às nuvens e à humidade, fomos dormir.

Dia 2 - 24 de Fevereiro

O dia amanheceu cheio de Sol, com um mar de nuvens em redor da ilha e com uma temperatura amena. Com o aumento da temperatura as nuvens foram subindo a montanha e acabaram por cobrir todo o observatório, mantendo-se o tempo totalmente nublado, com a humidade de 100% durante todo o dia. Porém, pelas 20 horas começou a limpar, a humidade a diminuir, e a noite acabou por ficar propícia à observação.
Durante a tarde o José Ribeiro esteve ocupado a reparar o espectroscópio, no qual o fio de alimentação da lâmpada de Néon estava danificado, tendo de ser substituído. Tudo isso foi feito sem remover o aparelho do telescópio, com as inerentes dificuldades no que respeita às soldaduras, tendo a reparação sido um sucesso.


A noite foi destinada a testes com o espectroscópio reparado, primeiro com Regulus (alpha leonis), depois com a estrela HD 60848 e, por fim, com a WR140, o principal objectivo desta missão. Além da WR140, na constelação de Cisne, e só visível pela madrugada, há outros objectivos secundários, nomeadamente estrelas Oe, das quais são conhecidas apenas 9, sendo uma delas a HD 60848 atrás referida.

O Luís Carreira montou o Taka 90 no exterior, frente ao telescópio MONS e fez a captura do cometa Lulin e do grande enxame globular Omega Centauri. Além destes , com o binóculo Fujinon 16x70, foram também observados a galáxia Centauro A, M51, M104, etc.



Foi curiosa a variação do estado do tempo. Durante a noite a humidade oscilou entre 20% e quase 100%, sendo que a cúpula tem que ser encerrada quando a humidade atinge os 80%. Isso aconteceu pelas 5 horas, pelo que o resto da noite foi ocupada a fazer flats.

Uma das coisas que exige bastante atenção é o registo de dados referentes a todas as capturas, desde a identificação (Néon, flat, etc) até à temperatura, humidade e hora a que ocorreu.

A noite terminou já com ar de dia, com as nuvens ligeiramente abaixo do nível do observatório, com o trio de planetas Júpiter, Mercúrio e Marte a pontuarem o horizonte leste.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Dia 1 - 23 de Fevereiro


A viagem

Partimos de Lisboa pelas 8:35, via Madrid, chegámos a Tenerife pelas 14:15, e, durante a aproximação, tivemos um primeiro vislumbre do observatório.



Tomámos a viatura de aluguer e parámos em San Isidro para almoçar, antes de atacarmos a montanha, subindo por Granadilla de Abona e Vilaflor,
Esta estrada é sinuosa, através de encostas arborizadas com pinheiros de grande porte que pouco se vão tornado mais esparsos, dando lugar a vegetação rasteira a partir dos 1800 metros.
Em 20 km sobe-se a 2100 metros. O resto do caminho é feito dentro da velha cratera do Teide, onde existem aglomerações de rocha vulcânica em vários estados de desagregação, e onde, em alguns lugares, parece que a rocha foi removida por uma retro-escavadora, enquanto noutros se podem ver fluxos de lava mais recentes. O pico do Teide é absolutamente majestoso, dominando esta paisagem desoladora do alto dos seus 3717 metros.



Chegámos pelas 18:00 ao Observatório de Teide, onde nos juntámos à equipa que iríamos render, Nando Romeo e Thomas Hunger, com quem jantámos na Residência .

A Noite

Após o jantar, tivemos uma noite de explicações sobre os procedimentos operacionais e funcionamento dos equipamentos. Treinámos a utilização dos círculos graduados manuais, cujo manuseamento é fundamental para apontar o telescópio para os alvos; aprendemos a fazer a abertura, rotação e fecho da cúpula, a preencher o registo diário com todos os dados das capturas feitas, incluindo dados meteorológicos, e finalmente a operação das diversas aplicações utilizadas.

O espectroscópio encontrava-se com a lâmpada de néon a funcionar erraticamente, impedindo a calibração dos espectros, o que na prática impedia a sua utilização. Apenas foi possível registar Bias e Darks, o que foi pena, pois a noite estava magnífica, com a humidade abaixo de 10%, a temperatura à volta dos 0ºC, e sem vento. Apesar de tudo, não perdemos a oportunidade de observar com os binóculos 16x70 o cometa Lunin que se encontrava perto de Saturno, dando a impressão que estava detectável a olho nu.


Fomos então dormir pelas 3:00, que o dia tinha sido longo.