sábado, 28 de fevereiro de 2009

Dia 5 - 27 de Fevereiro

Finalmente tivemos uma noite de céu limpo.
E o dia nem começou muito prometedor. Amanheceu nublado, com neve nos telhados de algumas construções e, no caminho para Esperanza, onde fomos almoçar, apanhámos nevoeiro e chuva miúda.
Regressámos relativamente cedo e fizemos a foto da praxe, com a bandeira portuguesa, à entrada do observatório.



Por essa hora, ainda o céu estava com nuvens altas e humidade elevada. Mas, pouco depois, começou a limpar e assim se manteve durante toda a noite.
Como já tínhamos feito flats no dia anterior, começámos logo pelas estrelas seleccionadas. Escolhemos a HD 14134, a HD 42087, a HD 43384 e a WR 140.
Por procedimento, é necessário fazer “neons” de 1 segundo e de 10 segundos, antes de fazer os espectros e, igualmente, após as capturas.
Com o tempo gasto no alinhamento com os círculos digitais manuais, os “neons” e 3 séries de 1200 segundos de capturas de espectros, atribuímos 2 horas a cada estrela.
A WR 140 só está ao nosso alcance, em posição adequada, pelas 04:00. Assim, mais ou menos entre as 3 e as 4 da manhã, aproveitamos para fazer “flats”, porquanto o tempo não é suficiente para mais uma estrela.
Encerrámos a cúpula pelas 06:20, com a humidade a atingir os 80%, limite operacional estabelecido para todo o observatório.


Durante a noite fomos preenchendo o registo de dados de temperatura, humidade, vento e hora a que cada “néon”, espectro ou flat foram capturados.
No final procedemos ao envio para Liège e Montreal.
Foi uma noite de pleno sucesso.
Estamos um tanto desagradados com alguns equipamentos, mas sobretudo com o computador disponibilizado para a campanha, que tem tudo em alemão, pelo que algumas acções são do tipo “Braille”. Também alguns procedimentos nos parecem um pouco excessivos, mas cumprimo-los porque não faz sentido mudá-los unilateralmente.
Entretanto o Luís Carreira e o Filipe montaram a TAKA P2Z, com uma SBIG ST10 e uma objectiva de 50mm, a f2.8, desdobrando-se no interior e no exterior.
Registaram um campo de nebulosas em VELA, a nebulosa Roseta e a região de Antares/Rho Ophiuchi.

A noite começou com um belíssimo par Lua e Vénus e terminou ao nascer do sol, com Júpiter, Mercúrio e Marte no horizonte leste.
Assim, sim. Esperamos ter mais noites como esta, todos os dias, até ao fim da missão.

Dia 4 - 26 de Fevereiro

O tempo tem sido uma frustração. Nas duas últimas noites a humidade foi de 100%, com céu totalmente encoberto e bastante frio.
Na manhã de 27 apercebemo-nos que tinha nevado. Embora, na área do observatório só houvesse vestígios de neve em alguns telhados, na estrada para Esperanza, a neve tinha-se acumulado nas encostas viradas a norte e acima dos 2000 metros.
Já que o tempo não tem colaborado, continuámos a nossa exploração da ilha. Desta vez resolvemos ir até à Punta de Tena. Para isso tomámos a estrada através das “Canadas del Teide”, depois a direcção de Santiago de Teide e, a partir daí, a estrada para a Punta de Teno.
Parámos nos campos de lavas, na base do Teide, campos de uma rudeza impressionante, para depois atravessarmos a denominada “Corona Forestal”.

Esta floresta cobre quase toda a parte central da ilha, em altitudes que vão dos 1000 até aos 2000 metros, consoante a exposição das encostas.
Após Santiago de Teide, a estrada é típica de montanha, muito estreita, com curvas apertadas, desdobrando-se à borda de precipícios com vistas vertiginosas.
Parámos para um café numa esplanada de vistas esplendorosas sobre Masca, após o que fizemos o resto da travessia das montanhas até Punta Preta, no fim de uma estrada sem saída, onde almoçámos numa esplanada mesmo à beira-mar.

Depois fomos até à Punta de Teno através de uma estrada cortada na falésia. Dessa ponta, junto ao farol de Teno, avistava-se a ilha de Gomera.
Espantaram-nos a grandiosidade das ravinas, os promontórios rochosos, o corte das estradas que, em muitos troços, oferecem um elevado perigo de derrocadas e de queda de pedras e as vistas de cortar a respiração.


Regressámos na esperança de uma noite de observação, mas não tivemos sorte, pois, como já referi, a humidade manteve-se nos 100% durante toda a noite.
Parece-nos que a situação meteorológica está a evoluir favoravelmente e que iremos ter céu limpo na noite de 6ª feira.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Dia 3 - 25 de Fevereiro

Dormimos até tarde.
Pelas 13 horas caía granizo e neve, e a paisagem ficou branca. O carro tinha uma camada de neve seca.



Resolvemos ir almoçar a Esperanza; fizemos todo o caminho com chuva e neve e acabamos por saborear óptima comida canária.


Depois fomos até a uma grande área comercial, próximo de La Laguna, para fazer abastecimentos e comprar um cabo de rede.
No regresso tomámos a estrada via La Orotava que atravessa a denominada “Corona Forestal”, área muito bela, cheia de árvores de grande porte, sobretudo altos pinheiros bravos.
Na viagem de regresso tivemos sempre tempo nublado, com tendência para nevoeiro, como a imagem abaixo mostra, com o Sol a pôr-se no pico do Teide.


Pelas 19 horas, com a humidade a 100% e o céu coberto de nuvens, pusemos o equipamento a capturar flats, uma série de 25x160s.
Ao mesmo tempo procedemos ao envio dos registos do dia anterior para Liège e Montreal. Ao contrário do que nos fora transmitido, com uma aplicação de FTP introduzida por Luís Carreira (FileZilla), a transmissão correu sem qualquer problema ou incompatibilidade com as restantes aplicações, nomeadamente a de aquisição de imagens (SigmaPRO), que durante a transmissão se encontrava a capturar uma série de flats, nos quais verificámos a existência de alguma anomalia. Correu perfeitamente, e com velocidade de transmissão na ordem dos 3 Mb/s!!!

Depois jantámos na Casa Solar, saboreando alguns dos petiscos que tínhamos comprado à tarde.
O tempo continuou húmido e o céu encoberto, pelo que pusemos o equipamento a capturar darks, uma série de 20x1200s, e bias.

Fizemos a reportagem para o blogue, procedemos ao tratamento de alguma imagens tiradas durante o dia e a noite anteriores e, pelas 03:00, rendidos às nuvens e à humidade, fomos dormir.

Dia 2 - 24 de Fevereiro

O dia amanheceu cheio de Sol, com um mar de nuvens em redor da ilha e com uma temperatura amena. Com o aumento da temperatura as nuvens foram subindo a montanha e acabaram por cobrir todo o observatório, mantendo-se o tempo totalmente nublado, com a humidade de 100% durante todo o dia. Porém, pelas 20 horas começou a limpar, a humidade a diminuir, e a noite acabou por ficar propícia à observação.
Durante a tarde o José Ribeiro esteve ocupado a reparar o espectroscópio, no qual o fio de alimentação da lâmpada de Néon estava danificado, tendo de ser substituído. Tudo isso foi feito sem remover o aparelho do telescópio, com as inerentes dificuldades no que respeita às soldaduras, tendo a reparação sido um sucesso.


A noite foi destinada a testes com o espectroscópio reparado, primeiro com Regulus (alpha leonis), depois com a estrela HD 60848 e, por fim, com a WR140, o principal objectivo desta missão. Além da WR140, na constelação de Cisne, e só visível pela madrugada, há outros objectivos secundários, nomeadamente estrelas Oe, das quais são conhecidas apenas 9, sendo uma delas a HD 60848 atrás referida.

O Luís Carreira montou o Taka 90 no exterior, frente ao telescópio MONS e fez a captura do cometa Lulin e do grande enxame globular Omega Centauri. Além destes , com o binóculo Fujinon 16x70, foram também observados a galáxia Centauro A, M51, M104, etc.



Foi curiosa a variação do estado do tempo. Durante a noite a humidade oscilou entre 20% e quase 100%, sendo que a cúpula tem que ser encerrada quando a humidade atinge os 80%. Isso aconteceu pelas 5 horas, pelo que o resto da noite foi ocupada a fazer flats.

Uma das coisas que exige bastante atenção é o registo de dados referentes a todas as capturas, desde a identificação (Néon, flat, etc) até à temperatura, humidade e hora a que ocorreu.

A noite terminou já com ar de dia, com as nuvens ligeiramente abaixo do nível do observatório, com o trio de planetas Júpiter, Mercúrio e Marte a pontuarem o horizonte leste.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Dia 1 - 23 de Fevereiro


A viagem

Partimos de Lisboa pelas 8:35, via Madrid, chegámos a Tenerife pelas 14:15, e, durante a aproximação, tivemos um primeiro vislumbre do observatório.



Tomámos a viatura de aluguer e parámos em San Isidro para almoçar, antes de atacarmos a montanha, subindo por Granadilla de Abona e Vilaflor,
Esta estrada é sinuosa, através de encostas arborizadas com pinheiros de grande porte que pouco se vão tornado mais esparsos, dando lugar a vegetação rasteira a partir dos 1800 metros.
Em 20 km sobe-se a 2100 metros. O resto do caminho é feito dentro da velha cratera do Teide, onde existem aglomerações de rocha vulcânica em vários estados de desagregação, e onde, em alguns lugares, parece que a rocha foi removida por uma retro-escavadora, enquanto noutros se podem ver fluxos de lava mais recentes. O pico do Teide é absolutamente majestoso, dominando esta paisagem desoladora do alto dos seus 3717 metros.



Chegámos pelas 18:00 ao Observatório de Teide, onde nos juntámos à equipa que iríamos render, Nando Romeo e Thomas Hunger, com quem jantámos na Residência .

A Noite

Após o jantar, tivemos uma noite de explicações sobre os procedimentos operacionais e funcionamento dos equipamentos. Treinámos a utilização dos círculos graduados manuais, cujo manuseamento é fundamental para apontar o telescópio para os alvos; aprendemos a fazer a abertura, rotação e fecho da cúpula, a preencher o registo diário com todos os dados das capturas feitas, incluindo dados meteorológicos, e finalmente a operação das diversas aplicações utilizadas.

O espectroscópio encontrava-se com a lâmpada de néon a funcionar erraticamente, impedindo a calibração dos espectros, o que na prática impedia a sua utilização. Apenas foi possível registar Bias e Darks, o que foi pena, pois a noite estava magnífica, com a humidade abaixo de 10%, a temperatura à volta dos 0ºC, e sem vento. Apesar de tudo, não perdemos a oportunidade de observar com os binóculos 16x70 o cometa Lunin que se encontrava perto de Saturno, dando a impressão que estava detectável a olho nu.


Fomos então dormir pelas 3:00, que o dia tinha sido longo.